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A Usina de Itatinga foi inaugurada em 10/10/1910, podendo ser considerada como um exemplo de engenharia elétrica no Brasil. Na época de sua construção, abastecia todo o porto e boa parte da cidade de Santos. Atualmente, com uma geração de 15 MW / 34 kV, ainda atende a 80 % da demanda da área portuária. Para se ter uma ideia do pioneirismo da Usina de Itatinga, basta lembrar que a IEC foi fundada em 1906, e que o COBEI foi fundado em 1908.
Se quisermos retratar um dos capítulos importantes e significativos do desenvolvimento do Porto de Santos, teríamos que nos reportar ao surgimento da pequena vila, com suas 70 casas pintadas de verde e amarelo (cor da Cia. Docas de Santos), que se encontra encravada em plena Serra do Mar, no Distrito de Bertioga, a sete quilômetros do Rio Itapanhaú, e cujo nascimento se deve à hidrelétrica que fornece energia ao Porto.
Sua história se prende às muitas disputas em que a Light e o grupo de Gaffrée e Guinle se envolveram, numa das contendas mais acirradas para defender e garantir monopólios, tanto no transporte urbano sobre trilhos como na geração e distribuição de energia elétrica em São Paulo. Esta última foi mais polêmica entre os idos de 1909 a 1911.
A luta do grupo nacional de Gaffrée e Guinle, contra o monopólio da Light, vem desde a criação da Rio Light em 1904.
Em 1888, tornaram-se concessionários do Porto de Santos, constituindo para esta finalidade a empresa Gaffrée, Guinle & Cia., com sede no Rio de Janeiro.
Em 1890, a firma elevaria o capital e mudaria para Empresa das Obras dos Melhoramentos do Porto de Santos.
Em 1892, seria reorganizada como sociedade anônima, adotando a designação definitiva e consagrada de Companhia Docas de Santos.
Desse modo, o grupo realizaria em Santos sua obra mais importante, construindo - sob a direção do brasileiro Guilherme B. Weinschenck - o primeiro porto nacional em condições de receber navios de grande porte.
Segundo Hélio Lobo, a participação de Gaffrée e Guinle na construção da estrada de ferro e na melhoria e operação do Porto de Santos despertou a atenção dos arrojados empresários para as potencialidades no setor. Entre esses, a aquisição da Cachoeira de Itapanhaú e a construção da Usina de Itatinga, em São Paulo.
Essas obras foram incorporadas ao patrimônio da Companhia Brasileira de Energia Elétrica, fundada por Gaffrée e Guinle em 1909, no Rio de Janeiro, exclusivamente com acionistas brasileiros, entre os quais o conhecido industrial paulista Jorge Street, que muito fez para a concretude desse evento na época.
À princípio, Gaffrée e Guinle mantiveram relações de negócios amistosos com a Light, entre 1904 e 1905. Porém, novos atritos surgiram com as pressões do financista norte-americano Percival Farquhar, para assumir o controle da Companhia Docas de Santos, como já havia feito com outros portos importantes.
Ou seja, o ponto de discordância no relacionamento entre os dois grupos poderia ter sido, na época, a tentativa da Companhia Docas de Santos de vender em São Paulo a energia excedente de sua usina de Itatinga, construída em 1906 para atender as necessidades do porto.
Desse modo, em 1907, a firma Guinle & Co., sucessora de Aschaff & Guinle, assinava um contrato com a Repartição de Águas de São Paulo para o fornecimento de 300 HP à Estação de Bombeamento.
Uma semana depois, Alexandre Mackenzie insiste com os diretores da São Paulo Light & Power que procurassem o governador e o prefeito para "pôr um ponto final nos planos de Guinle & Co.". E recomendou, ainda, "que façam todos os esforços para garantir a concessão do fornecimento de eletricidade no Município de São Bernardo, a fim de criar uma nova dificuldade para a ligação entre Santos e São Paulo pretendida por Guinle".
No entanto, Guinle & Co. resistem e, em 1908, conseguem a representação da GE no Brasil. Nessa época, obtêm do Governo Federal um decreto de autorização da construção de uma linha transmissora de Itapanhaú, onde pretendiam levantar uma nova usina, até São Paulo.
Finalmente, em 5 de fevereiro de 1909, a Companhia Docas solicita à Prefeitura de São Paulo autorização para vender na Capital o excesso de energia da Usina de Itatinga.
O preço da tarifa oferecido era extremamente conveniente e o prefeito Antônio Prado defere o pedido, não entendendo a concessão pela companhia. Mas, a Light não se conforma e sai a campo através de uma inflamada polêmica sobre a terminologia "Lugares ocupados".
Em 29 de abril do mesmo ano, a Câmara Municipal de São Paulo interpreta "Lugares ocupados" na lei nº 1.210, em sentido favorável à Light.
Após esse fato, o prefeito revoga a autorização concedida a Gaffrée e Guinle - que, no entanto, não se conformam e solicitam novo pronunciamento da Câmara, o que leva a mesma a voltar, em 22 de maio, e concordar com Gaffrée e Guinle na expresão "Lugares ocupados", referindo apenas a ruas e praças em que já estivessem instaladas luz e força. O prefeito, no entanto, mantém - para surpresa de Gaffrée e Guinle - a revogação da autorização.
O pano de fundo nisso tudo era a pressão exercida por Alexandre Mackenzie e seus pares, dando prioridade à Light, na defesa desse monopólio, levando até diminuição das tarifas de luz e força e tarifas também de bonde. Por fim, Gaffrée e Guinle resignaram-se à força da Light (e de Amforp em outros estados), desistindo do setor de geração e distribuição de energia elétrica.
Texto de Ricardo Evaristo dos Santos, pesquisador e bacharel em História, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Santos.
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